02 março 2012

Pudor e Luxúria no Brasil

Entre a Luxúria e o Pudor - História do Sexo no Brasil - é o título do livro de Paulo Sérgio do Carmo sobre a vida íntima e sexual dos brasileiros. São tratados no livro os assuntos mais cotidianos entre homens e mulheres ou entre si, já que também se fala da homossexualidade.

Ao estudar sobre história do Brasil, os imigrantes, o trabalho escravo... Chamou a atenção do autor o ambiente de luxúria no contato entre os portugueses e índios. Da mesma forma, os Bandeirantes e imigrantes "utilizavam-se das índias pelo caminho, ao se embrearem no mato afora". Como seria a vida sexual dos escravos? De acordo com o autor, o número de homens escravos era muito maior que o de escravas. Como seria a vida sexual destas escravas, então? Pouca oferta, grande procura. Por outro lado, Paulo Sérgio aborda a homossexualidade em Fernando de Noronha, lugar utilizado no séc. XVIII como lixão humano, ou melhor, depósito de homens. Os considerados delinquentes eram enviados para a ilha, formando uma população 100% masculina. Havia casamentos entre homens na ilha e, em contrapartida, pressões políticas de juristas e moralistas para o envio de mulheres para o local. Algumas foram enviadas e, como ainda eram raras, se prostituíam por lá. Assim e entre outras nasceu o interesse pela temática "500 anos de história da sexualidade no Brasil".

Ao estudar os imigrantes, Paulo Sérgio comenta o vaivém de milhares de prostitutas estrangeiras, francesas, polacas, russas, portuguesas... E descobre uma colônia (Colônia Cecília) anarquista, de amor livre, iniciada no Paraná em 1890. A colônia chegou a uma adesão de 250 pessoas, em quatro anos, mas não resistiu às implicações com a Igreja e com o Estado e, principalmente, com os próprios tabus dos adeptos.

Estas histórias são excelentes para podermos entender o nosso comportamento, ou os nossos modos de vida. O que hoje é luxúria e o que seria pudor? Há citações do sociólogo Gilberto Freire (Casa Grande Senzala) colocando o leitor em contato com o "linguajar chulo" ao pintar as cenas do contato dos estrangeiros com as índias: "tomem cuidado jesuítas, pois podem vocês escorregarem em carne" - insinuando que as índias se esfregavam  em quem chegava -, ou "por qualquer caco de espelho as índias dão para qualquer caraíba".

Em relação ao pudor, temas como masturbação já foi crime hediondo, pecado, doença ou hábito não saudável, até passar a ser encarado hoje como algo natural e normal. Hoje, alguns especialistas até recomendam a prática para a promoção do auto-conhecimento. Seria forte de mais hoje se referir ao seu sinônimo: estupro com as mãos.

A polaridade entre a luxúria e o pudor está presente em toda a história do país que, para o autor, passa pelos colonizadores, religiosos, bandeirantes, imigrantes, sertanistas, índios, escravos... Brasileiros. Assim, podemos imaginar o pudor como algo que promove a luxúria ou uma luxúria que tem como tábua de salvação a moral. Pólos que parecem depender um do outro para existirem, e capazes de fazerem toda uma história.

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